sábado, 6 de fevereiro de 2010

Estendes-me a mão. Olho-te, timidamente, quase sem levantar a cabeça, apenas o olhar. Os nossos olhos cruzam-se. Temos ambos lágrimas dentro deles. Acompanha-nos algum arrependimento, tristeza...saudade.

Não é qualquer esforço para mim, e por isso, dou um passo na tua direcção. Levanto a cabeça, e agora, com o olhar ao nível do teu, encosto a minha testa na tua..dou-te finalmente a mão e agarro-a com força. Com muita força.
Tenho vontade de te abraçar, mas não. Ainda não.

Guardo o melhor para mais tarde, como sempre fiz. Tento entender-te, ler o que me dizes com o olhar, sem uma única palavra (ainda).

Falta-me o ar. E não aguento mais. Começo a chorar compulsivamente, mal consigo controlar os soluços. Doi-me o peito. Ele está pequeno, apertado e não consigo com que nele caiba todo o amor que te dedico. Ele cresceu dentro de mim. E hoje é um amor maior, um amor sem tamanho. Incondicional.

Todos os sonhos sonhados, os desenhos no papel em cima da mesa, todas as palavras, as musicas, as pedras, os perfumes e as cartas estão presentes na minha memória. Na memória que tentei apagar de ti. E que nunca consegui porque a tentativa falhou. Nunca acreditei nela, porque iria ter sucesso?

'É incrivel o que consigo sentir quando estou contigo'...

O pedaço de papel ainda permite que se leia isto. As letras quase se apagaram, mas eu agarro-me ao pouco do 'quase' que me resta. Agarro-me como uma louca. E sou louca. Por ti.

Abro os olhos, e já não estás aqui.

O sonho foi bonito demais, e tudo o que eu queria, era nunca ter acordado.


A realidade, esta, é o ar que respiro todos os dias. Os planos que timidamente faço. Os passos que dou, muito a medo.
As canções que canto têm o teu nome. Guardo a fotografia que me deste (e que só existe dentro de mim) debaixo de todas as palavras que nunca me escreveste. És real, e eu sei disso. Existes. És verdade. És possivel.

Eu é que não sou.


'Não sou nada. Nunca serei nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo' (....) -Álvaro de Campos

'Amar é a eterna inocência, e a única inocência é não pensar'
- Alberto Caeiro

(então amar é apenas isso: não pensar)

E eu, que me enganei a mim mesma, tantas e tantas vezes...

Perdoar-me-às algum dia?

É que eu sonho, todos os dias com essa 'cena'.

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