quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Não me canso de dizer: thank you F.

"A Clareza do Coração para o Coração"


O caminho supremo não pede nada difícil,
mas detesta toda a diferenciação ou preferência.
Simplesmente arranja-te sem amor nem ódio
E tudo surgirá de maneira clara e aberta.

No entanto, com o mínimo grau de diferenciação
As coisas ficam mais afastadas do que o céu da terra!
Se quiseres o caminho bem aqui, à tua frente,
Não tenhas nada a ver com concordar ou discordar.

Sempre que a aceitação e a rejeição competem pela supremacia,
Isso significa doença para a mente.
Sem compreender o Significado Obscuro
Empenhas-te em vão para aquietar os teus pensamentos.

O Caminho é circular, é um vazio imenso
Onde nada falta e nada sobra.
É só porque escolhes e rejeitas
Que o Caminho deixa de ser assim.

Não corras nunca atrás do domínio das complicações,
Mas também não te demores no Vazio.
Quando a mente chega à unidade no repouso,
Todo o resto desaparece de si mesmo.

A mente movimenta-se e tu devolve-la à imobilidade,
Mas assim imobilizada ela movimenta-se ainda mais.
Enquanto persistes nestes dois extremos,
Como poderás entender a unidade?

E onde a unidade já não reina mais,
Os dois extremos perdem o seu mérito.
Rejeita a existência e ver-te-às afogado por ela;
persegue o Vazio e estarás a desviar-te ainda mais dele.

Muita conversa, muita preocupação,
E tu, mais do que nunca, não és capaz de enfrentar as coisas.
Acaba com as conversas, acaba com as preocupações
E não haverá lugar que não possas atravessar.

Volta à raiz e estarás a captar o significado;
No entanto, se vais atrás de luzes, perdes a origem delas.
Acende a tua própria luz um instante
E poderás dominar o Vazio à tua frente.

Os desvios e as curvas desse Vazio
Nascem todos de visões ilusórias.
Não há necessidade de ires em busca da verdade:
Apenas dá um fim a essas visões!

O dualismo não é lugar para se ficar;
Cuidado, nunca vás para aquele lado!
Nem bem começamos a pensar em "certo" e "errado"
E a mente já se perde na confusão.

Pois surgem por causa de Um,
Mas também não te agarres ao Um!
Desde que a mente não se agite,
As dez mil coisas continuam irrepreensíveis;

Nada de culpa, nada de fenómenos,
Nada de agitação, nada de mente.
O observador desaparece junto com a cena
E a cena acompanha o observador no esquecimento total,

pois a cena só é cena graças ao observador
E o observador só é observador por causa da cena.
Se quiseres entender os dois,
Encara-os desde o início como um Vazio único,

um Vazio isolado em que os dois são idênticos
E abrangem do mesmo modo todas as dez mil formas.
Quando percebes as coisas sem distinguir o grosseiro do delicado,
Como poderias preferir uma à outra?

O Grande Caminho é a alma da largueza;
Nele nada é fácil e nele nada é difícil.
As pessoas de aparência insignificante são impacientes e duvidam de tudo;
Quanto mais correm, mais ficam para trás.

Quem se prende à futilidade sempre perde a medida certa
E com certeza envereda por caminhos errados.
Deixa para lá! Deixa que as coisas sigam o próprio curso!
No fim não há nem ir, nem ficar.

Serve a tua própria natureza, mistura-te com o Caminho,
Sê livre e fica à vontade, alheio a todos os cuidados.
Restringe os teus pensamentos e estarás a dar as costas à verdade,
A mergulhar na escuridão, já não te sentindo bem.

E se não te sentes bem, estás a esgotar o espírito:
Do que adianta cobiçar uma coisa, desprezar outra?
Se quiseres entender o Veículo Único,
nunca desprezes os seis sentidos.

Desde que os seis sentidos não sejam desprezados,
Serás uno com a percepção correcta.
Os sábios não agem de nenhuma maneira especial;
Os tolos forjam os próprios grilhões.

Para a Lei não existe "esta" nem "aquela" Lei,
Mas ainda assim persistes nos teus apegos insensatos.
Usar a mente para despertar mais mente:
Existe erro maior do que este?

O delírio gera conceitos como "tranquilo" ou "desordenado";
A iluminação diz-te que não existe o bom nem o mau.
Todos esses pares de opostos nascem de uma percepção falsa.
Sonhos, fantasmas, flores vazias:

Por que te incomodares tentando alcançá-los?
Ganho, perda, certo, errado:
Livra-te deles agora!
Quando os olhos não se fecham no sono,

Os sonhos desaparecem de si próprios.
Quando a mente se abstém de fazer distinções,
Os dez mil fenómenos são vistos como são e como se fossem uma coisa só,
Uma coisa única de natureza escura,

Pesada, esquecida de complicações.
Encara os dez mil fenómenos como se fossem iguais
todos reverterão para o estado natural.
Tendo sido varrida a base da existência deles,

Será impossível preferir um a outro!
Pára o movimento e o movimento deixa de existir;
Movimenta a imobilidade e a imobilidade desaparece.
Mas quando nenhum dos dois existe,

Como pode existir mesmo uma única coisa?
No domínio definitivo, no extremo mais afastado,
Já não vigoram mais normas nem padrão.
Uma vez atingida a verdadeira imparcialidade da mente,

Os actos intencionais cessam completamente,
Depurados todos os temores e dúvidas
Na harmonia e na rectidão da verdadeira fé.
Absolutamente nada mais resta,

Nada em que pensar, nada para recordar.
Numa claridade vazia a tua luz brilha por si mesma,
Sem trabalho mental nem físico,
No lugar sem consequências,

Além do alcance da cognome ou do sentimento.
O domínio do Dharma das coisas como elas são
Não reconhece nenhum "outro", nenhum "Eu".
Se te queres aproximar e entrar nele,

Diz apenas para ti mesmo: "dois, não!".
Onde "não há dois", tudo é uniforme;
Nesse lugar não há nada embrulhado.
Sábios das dez direções

Querem todos chegar a essa Origem.
Nessa Origem não ha períodos de tempo, nem curtos, nem prolongados:
Um instante é dez mil anos;
Não existe "aqui" nem "não aqui",

As dez digressões estão todas bem diante dos teus olhos.
O mais minúsculo é idêntico ao enorme,
Eliminadas todas as fronteiras e domínios.
O grande é idêntico ao minúsculo

E já não se pode ver os extremos.
Ser é não ser,
Não ser é ser.
Qualquer opinião diferente desta
Não deve ser mantida!
Um é tudo,
Tudo é um.

Quando conseguires ver desta maneira,
Que preocupações não vão desaparecer?
Quando a confiança e a mente não são duas,
Não são duas, a confiança e mente,
Aí todos os mundos se desintegram,

Sem passado, sem futuro, sem agora...

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