terça-feira, 23 de março de 2010

Nas margens do Rio Piedra eu sentei e chorei

Quanto mais amamos, mais próximos estamos da experiência
espiritual. Os verdadeiros iluminados, com suas almas incendiadas pelo
Amor, venciam todos os preconceitos da época. Cantavam, riam, rezavam
em voz alta, dançavam, compartilhavam aquilo que São Paulo chamou
«santa loucura». Eram alegres – porque quem ama venceu o mundo, não
tem medo de perder nada. O verdadeiro amor é um acto de entrega total.



O monge Thomas Merton dizia: «A vida espiritual resume-se em amar.
Não se ama porque se quer fazer o bem, ou ajudar, ou proteger alguém. Se
assim agimos, estaremos a ver o próximo como simples objecto, e estaremos
a ver-nos a nós mesmos como pessoas generosas e sábias. Isso nada tem a
ver com amor. Amar é comungar com o outro, e descobrir nele a centelha de
Deus.»




Ah, quem me dera que eu pudesse arrancar o coração
do meu peito e atirá-lo na correnteza, e então não haveria mais dor, nem
saudade, nem lembranças.
Nas margens do Rio Piedra eu sentei e chorei. O frio do Inverno fez
com que eu sentisse as lágrimas na face, e elas misturaram-se com as águas
geladas que corriam diante de mim. Em algum lugar, este rio junta-se com
outro, depois com outro, até que – distante dos meus olhos e do meu coração
– todas estas águas se confundem com o mar.




Mas pobre de quem teve medo de correr riscos. Porque esse talvez
não se decepcione nunca, nem tenha desilusões, nem sofra como aqueles
que têm um sonho a seguir. Mas quando olhar para trás – porque olhamos
sempre para trás – vai ouvir o seu coração a dizer: «O que fizeste com os
milagres que Deus semeou nos teus dias? O que fizeste com os talentos que
o teu Mestre te confiou? Enterraste-os bem fundo numa cova, porque tinhas
medo de perdê-los. Então, esta é a tua herança: a certeza de que
desperdiçaste a tua vida.»

Pobre daquele que escuta estas palavras. Porque então acreditará em
milagres, mas os instantes mágicos da vida já terão passado.


Há um ano senti-me abandonada.
E hoje senti-me de novo.

Não quero voltar a sentir isto que sinto agora. Não quero mais.




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