'Porque é que os homens querem sexo, e as mulheres precisam de amor'? - foi este livro que me ofereceram no Natal, e que, depois de rir à gargalhada em jantares de grupo, encostei. Estupidamente dediquei-me a leitura 'de qualidade', mas a qualidade estava aqui! A falta de qualidade esteve onde ficou a minha escolha. Ora que ha que ler livros com conteúdo literário, ou com escrita elaborada...Tretas. Há que ler aquilo que nos faz falta neste momento. Peguei no livro novamente e só o pouso quando devorar o final.
A maioria de nós foi educada na crença de encontrar 'o tal'- aquela pessoa especial com quem está escrito que passaremos a eternidade. Para a maioria das pessoas, no entanto, a vida real não se mostra à altura destas expectativas. A maioria das pessoas que se casa, acredita que o faz 'até que a morte os separe', mas as taxas de divórcio falam por si. Duvidas?
A incapacidade de fazer um relacionamento funcionar é encarada com uma falha pessoal pela maioria das pessoas, mas o conflito nos relacionamentos é o que constitui a norma.
A conclusão a que chego, quando observo os relacionamentos de hoje: sejam namorados, casados, amigos coloridos, e afins, é que há por aí uma grande falta de amor. Perderam-se valores ao longo dos anos, e o valor merecido pelo conceito da familia, da união, da cumplicidade, dos olhares que se trocam e dispensam palavras (tal como um Pai quando arregala os olhos e o filho fica estático), andar de mão dada na rua, os abraços apaixonados, os beijos loucos e fervorosos a toda a hora e momento, perdeu-se. Perdeu-se tudo.
Existem 3 estímulos cerebrais distintos com vista ao 'acasalamento e reprodução': o desejo carnal; o amor apaixonado; e o compromisso duradouro.
Se pensarmos, e é assim mesmo, que acada um destes sistemas está associado a distintas actividades hormonais, fica tudo muito mais facil. Porquê nós, mulheres, pediríamos de um homem aquilo que ele não tem capacidade de nos dar...? É uma questão hormonal. Tal como o desenvolvimento da inteligência humana. É ridiculo, e todos sabemos disso, pedir a uma criança de meses que escreva o seu nome. Tal como é absurdo pedir a um gajo, que mantenha as calças para cima, e as cuecas vestidas. Lá está: hormonas....não dá para muito mais do que isto. São básicos, e limitados. Ponto.
Limitadas são as mulheres que, igualmente, confiam no 'até que a morte nos separe' e passam uma vida miseravel entre a cozinha e o ferro a tratar do bem estar destas perfeitas aberrações da natureza (mas que conseguem levar-nos à lua...confesso)
Está mais do que comprovado que o amor é o resultado de um grupo especifico de substâncias quimicas e circuitos cerebrais que operam em determinadas áreas do cerebro (esta área não existe no cérebro masculino, eu diria...)
Em termos cientificos para 'leigos' (como eu) pode simplificar-se a coisa dizendo que o amor é desencadeado por uma combinação de substâncias quimicas presentes no cerebro (a dopamina, a oxitocina, a famosa testosterona...raios os partam...entre outras). Estas susbstâncias quimicas também existem no cerebro de todos os outros animais mamíferos, por isso, nada de vangloriar os homens e dizer que são uns ricos filhinhos porque nos fazem muito bem o jantar e/ou nos dão orgasmos multiplos e interminaveis. É o que eles sabem, fazer...ponto.
Ao pensarmos que é o nosso cerebro (e não o coração, isto, quando falamos dos gajos) que identifica o sentimento, tudo muda de patamar. As mulheres param de sofrer, e os gajos (estupores dos gajos) param de manter aquela pose do 'quero posso e mando' que não serve para nada mais do que nos dar cabo da vida (e da cama...com toda a delicia que isso acarreta...)
Uma das razões (lógicas) pelas quais o amor parece fazer-nos parar o coração, é a possibilidade e o temor de que o sentimento possa não ser recíproco, e o sonho possa subitamente chegar ao fim. Quando somos abandonados, o nosso cerebro (e não o nosso coração) quer ir atrás do nosso ex companheiro/a. Isto acontece porque quando revemos os nossos ex apaixonados, o nosso cerebro desencadeia a produção de dopamina, que não é nada mais do que a mesma hormona que está associada ao prazer e à dependência. Isto falando claramente, quer dizer que, não voltamos atrás por causa do amor mas sim da dependência que temos da pessoa, como se de uma droga. Por isso, quando nos acontecer uma destas desgraças, o meu conselho às amigas será o de arrancar os cabelos, e depois pedir nas urgências o antídoto para este (quase) veneno.
O amor é diferente...porque no amor a depêndência não passa por aqui. Passa por outros lados. Se revirmos um ex amigo, já não existe a produção dessa hormona e a terra continua a girar para o mesmo lado. É do conhecimento geral, todos nós sabemos, que a ruptura de uma relação pode desencadear várias doenças, principalmente do foro psicológico (gajos pá....)
O que dizem os médicos, é que 'normalmente' é preciso cerca de 1 mês por cada ano de relacionamento para a total recuperação. Ora como os casamentos de hoje duram o que duram, a coisa em meia duzia de meses fica resolvida. É basicamente uma desintoxicação. Simples. Muito simples. Já em casamentos que duraram 40 ou 50 anos, se um se vai, é muito frequente que o outro não dure muito depois disso, porque não tem de vida um mês por cada ano de relacionamento, e aí a coisa é mais complicada. Mas hoje em dia isso não se vê. Vou publicar já a seguir um texto que elogia o amor com uma grande categoria. É já a seguir.
Resumindo...em termos simples, o impulso sexual é uma mistura de substâncias quimicas que são libertadas para o sangue pelo cerebro, e estimula a produção das ditas hormonas, nomeadamente a testosterona e o estrogéneo. Obviamente que a circunstância do momento são factores determinantes para que a 'reacção quimica' se dê...uma canção, o cheiro de um perfume, ou vermos uma pessoa parecida podem desencadear a libertação destas hormonas no sangue. É só isto. Mais nada.
Diz também a ciência que todos os ideiais românticos, os sentimentos amorosos e altos e baixos por que podemos passar estão quimicamente ligados e não constituem (diz a ciência, eu ainda prefiro acreditar no contrário...) o encontro mistico e misterioso de almas em que todos gostaríamos de encontrar...(uma pena...)
Pior: Não compreender que o amor é uma sequência de reacções quimicas pode deixar-nos expostos ao primeiro predador que nos apareça....(ooops)
O amor, o desejo carnal, a paixão e o desejo sexual, são tudo respostas a reacções desencadeadas no nosso cerebro (o meu funciona de forma diferente, foi 'alterado'...)
Quando aprendemos que as nossas pulsões e sentimentos, são controlados por respostas quimicas que têm lugar no cerebro, podemos aprender a trabalhar com eles, em vez de os combater.
O amor é outra história. Também se sabe que as pessoas que amam e são amadas, vivem mais tempo, e são mais saudaveis. E se a quimica não funcionar à primeira, ou à segunda, ou à décima, o importante é nunca desistir, porque há uma quantidade infinita de pessoas ideais e perfeitas.
É por estas e outras, que este texto, que foi já motivo de post do dia em blogs anteriores, hi5's e afins, foi o que escolhi para brindar o meu post de hoje. Porque realmente há coisas que me ultrapassam, não entendo onde ficaram os valores que realmente têm valor, ou seja, mais concretamente, o amor...!
Espero que gostem tanto quanto eu.
"Elogio ao amor" -Miguel Esteves Cardoso
Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.
O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar.
O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.
O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
Posto isto, nada a acrescentar. É tal e qual o que penso. Tal e qual (mesmo).