domingo, 4 de julho de 2010

Dia 2

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.




A maioria das gaivotas preocupa-se em se alimentar. Esta era diferente. Queria voar alto, rumo ao desconhecido e aquilo que era novo. Para tal, foi-lhe exigido esforço, perseverança, e força de vontade. Para as gaivotas o importante é voar em busca de alimento, mas para esta o que mais importava era voar, pelo prazer de voar. Tentou inclusivamente seguir o ritual em que todas as gaivotas seguem os barcos em busca de restos de peixes para se alimentar, mas esta gaivota achou que isso não fazia sentido. Não fazia sentido remediar-se com uma coisa pequena, quando há um grandioso céu, e um mundo inteiro, pronto para ser descoberto. Tornou-se num pássaro solitário, não só pelo seu modo de ser, mas por ter sido incompreendido pelos seus semelhantes.
Sempre que alguém quer inovar, quer ir de encontro ao rotineiro, ao que foi já estabelecido, e acaba por abalar as estruturas da mesmice, e então resolve-se o problema voando para longe daqueles que andam, um atrás do outro, sem saber para onde vai a multidão.
Esta Gaivota saiu da sua zona de conforto, tornou-se vulneravel ao fracasso, mas em compensação aquiriu total controlo sobre o medo e pôde assim voar cada vez mais alto, a outro plano onde poderia vir a aprender novas sabedorias, a adquirir maior conhecimento.

O amor é condição 'sine qua non' para tudo. O saber seguir em frente sem carregar consigo mágoas daqueles que ainda engatinham na sua aprendizagem, e por esta razão não conseguem ver sob a mesma óptica nossa, é a mais pura expressão do amor. Todos temos direito de abrir novas trilhas na nossa caminhada, basta querer.
Basta que nos libertemos das amarras da rotina para que possamos caminhar rumo à liberdade do SER.


adaptado de 'Fernão Capelo Gaivota' -Richard Bach

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